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20240919FiequimetalMárcia Fernanda Trabulo, ergonomista, defende que a prevenção das lesões musculoesqueléticas relacionadas com o trabalho tem de ser uma prioridade, para melhorar a saúde e o bem-estar dos trabalhadores.
13.4.2025

 

Num depoimento que escreveu em apoio à campanha sindical pelo reconhecimento do desgaste rápido na indústria, Márcia Trabulo salienta que é necessário fazer mais e melhor, colocar o trabalhador solidamente no centro das atenções e das preocupações, concretizar mudanças na organização do trabalho, desenvolver condições de trabalho sustentáveis e investir mais na reabilitação.

 

 


As lesões musculoesqueléticas associadas ao trabalho
e a importância de uma prevenção eficaz

 

2025412MarciaTrabuloDr.ª Márcia Fernanda Trabulo
Ergonomista

 

 

As lesões musculoesqueléticas associadas ao trabalho continuam a ser tema atual e motivo de preocupação, dada a sua continuada manifestação em variadíssimos setores do mercado de trabalho, sem que se denote decréscimo no número de casos.

São as condições de realização do trabalho, existentes nos locais de trabalho, que, muitas vezes, obrigam a esforços de tensão muscular repetitiva e de carácter cumulativo por parte dos trabalhadores. Estes esforços podem ir para além das capacidades dos trabalhadores, podendo ocasionar doenças profissionais musculoesqueléticas, referidas na lista portuguesa de doenças profissionais com os códigos 45 (45.01, 45.02, 45.03, 45.04), do Decreto Regulamentar n.º 6/2001, de 5 de maio, e alterações do Decreto Regulamentar n.º 76/2007, de 17 de julho.

É reconhecida a relação inevitável entre determinadas atividades de trabalho praticadas e o surgimento de lesões, como resultado da elevada sobrecarga, dos ritmos acelerados e das longas jornadas de trabalho contínuo. Por exemplo, linhas de montagem do setor automóvel ou, na área da costura ou passar a ferro, entre muitos outros. Estes problemas não desapareceram no tempo, nem mesmo com a evolução tecnológica, sendo sobejamente conhecida a gravidade da situação em relação a estes distúrbios, continuando a verificar-se, uma grande pressão para se produzir, com imposição de ritmos acelerados, ciclos de produção curtos e com tempos de descanso e de recuperação, durante a jornada de trabalho, muito reduzidos.

Mas, para além dos fatores de risco associados ao trabalho, a contração de lesões musculoesqueléticas depende também de fatores relacionados com o próprio trabalhador, ou seja, das suas próprias características (idade, sexo, características físicas e mentais, formação, informação, motivação,..). Significa que, em condições de trabalho semelhantes, poderá existir maior ou menor propensão de determinado trabalhador para contrair este tipo de lesões. É necessário não descurar estes aspetos e ter estratégias direcionadas para o trabalhador, para minimizar esta relação.

A estes fatores soma-se o fato de os princípios ergonómicos nem sempre serem tidos em conta na conceção e mesmo na correção dos postos de trabalho, pressupondo, em muitos casos, a existência de situações desfavoráveis ao trabalhador e que poderão promover a degeneração osteoarticular.

As lesões musculoesqueléticas são patologias, resultantes de traumatismos repetitivos, que atingem tendões, cartilagens, nervos, músculos ou estruturas de apoio, como, por exemplo, os discos intervertebrais. Estas desordens, susceptíveis de provocarem desequilíbrios funcionais, variam com o grau de severidade, podendo manifestar-se por episódios periódicos leves ou por situações crónicas incapacitantes. São situações habitualmente progressivas.

Reforça-se que qualquer profissão que implique a exposição a determinados fatores de risco – tais como movimentos repetitivos das mãos, dedos, punhos ou ombros, membros inferiores, aplicação de força, extrema precisão, stresse e velocidade forçada, exposição a vibrações, posturas extremas, esforço muscular estático, carga horária excessiva, ausência de pausas – pode originar este tipo de lesões e pode reduzir a qualidade de vida dos trabalhadores, prejudicar a sua saúde física e mental e as relações familiares.

De acordo com dados da Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, as lesões musculoesqueléticas (LME) continuam a ser o problema de saúde relacionado com o trabalho mais comum na União Europeia (UE), estando em causa trabalhadores de todos os setores e profissões. Para além dos efeitos nos próprios trabalhadores, as LME acarretam custos elevados para o indivíduo, para as empresas e para a sociedade, em geral.

Também a Organização Mundial de Saúde (OMS) refere que, numa análise dos dados da Carga Global de Doenças (GBD), de 2019, aproximadamente 1,71 mil milhões de pessoas em todo o mundo vivem com problemas musculoesqueléticos, incluindo dor lombar, dor cervical, fraturas, outras lesões, osteoartrite, amputação e artrite reumatóide. Embora a prevalência das doenças musculoesqueléticas varie de acordo com a idade e o diagnóstico, pessoas de todas as idades em todo o mundo são afetadas.

A prevenção das lesões musculoesqueléticas relacionadas com o trabalho tem de ser uma prioridade, para melhorar a saúde e o bem-estar dos trabalhadores, sendo necessário, para isso, a adoção e aplicação de estratégias e políticas, já preconizadas pela União Europeia.

No trabalho, é, pois, necessário que se conheça os fatores de risco, para que se possa atuar na prevenção destas doenças e na optimização da interação do trabalhador com toda a envolvente do trabalho, realçando, como critérios, a segurança e saúde do trabalhador e a eficácia do sistema produtivo. Nesta perspectiva, é essencial ouvir o trabalhador, considerar o contributo da Medicina do Trabalho e da Ergonomia, em qualquer instituição, empresa ou setor de atividade, bem como o comprometimento de chefias e responsáveis, no sentido de melhorar e criar condições ajustadas aos trabalhadores considerando também, o tempo de exposição dos trabalhadores a determinadas atividades e condições de trabalho, como fator crítico na ocorrência dessas lesões.

É necessário fazer mais e melhor! Colocar o trabalhador solidamente no centro das atenções e das preocupações desde o início da sua vida profissional e ao longo da vida profissional, concretizar mudanças na organização do trabalho, desenvolver condições de trabalho sustentáveis e maior investimento na reabilitação. A Organização Mundial de Saúde (OMS) advoga que os esforços para fortalecer a reabilitação devem ser dirigidos para apoiar os sistemas de saúde como um todo e integrar a reabilitação em todos os níveis de cuidados de saúde. A reabilitação deve estar disponível para toda a população, abrangendo as pessoas com problemas musculoesqueléticos em todas as etapas da vida e durante o período de prestação dos cuidados de saúde.

 

 

 

Obter depoimento de Márcia Trabulo em pdf

— Pelo reconhecimento do desgaste rápido na indústria

 

 

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