Os trabalhadores não precisam de truques de magia e vão continuar a lutar por aumentos salariais justos, com direitos assegurados, e pelo fim do bloqueio patronal à negociação colectiva — como ficou bem demonstrado na concentração realizada em frente da sede da CIP, em Lisboa, ao fim da manhã da passada sexta-feira.
20.2.2024
Na concentração de dia 16, que culminou uma «quinzena de luta», participaram mais de duas centenas de representantes dos trabalhadores dos sectores da indústria, associados dos sindicatos da Fiequimetal, que exibiram faixas e bandeiras e entoaram palavras de ordem.
Os problemas, as lutas e as reivindicações dos principais sectores foram abordados nas intervenções de Nuno Santos, do SITE Sul, Benny Freitas, do SITE CSRA, Diogo Correia, do SIESI, Justino Pereira, do SITE Centro-Norte, e Sérgio Monteiro, do SITE Norte.
A situação da juventude trabalhadora e a preparação da sua manifestação nacional, a 27 de Março, foi o tema principal de Gonçalo Paixão, dirigente da Interjovem/CGTP-IN.
Resolução aprovada e entregue
Manuel Bravo, do Secretariado da DN da Fiequimetal, apresentou uma resolução que, depois de aprovada, por unanimidade, foi entregue por uma delegação na sede da CIP.
No documento, exige-se:
• O desbloqueio da contratação colectiva nos sectores do material eléctrico e electrónico, químico, metalúrgico e automóvel, através de uma efectiva negociação com os sindicatos da Fiequimetal;
• Que os salários sejam aumentados em 15 por cento, com um mínimo de 150 euros, com efeitos a 1 de Janeiro de 2024;
• A fixação do salário mínimo de admissão nas empresas em 910 euros, com efeitos a 1 de Janeiro de 2024;
• A valorização do trabalho e dos trabalhadores, através da progressão nas carreiras profissionais;
• A redução progressiva dos horários de trabalho, para atingir, a curto prazo, o máximo de 35 horas semanais.
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A «magia» da massa salarial
Rogério Silva, coordenador da Fiequimetal, informou que a federação tinha acabado de saber da disponibilidade do presidente da CIP, comunicada pelo próprio, para receber uma delegação sindical. Ali adiantou o que iria ser reafirmado nessa reunião, aceite para ter lugar logo após o final da concentração.
Começou por destacar que «não estamos a reivindicar o céu e a terra, estamos a reivindicar aquilo que é nosso e justo por direito».
Rogério Silva criticou os passes de magia, como a direcção da CIP fez, depois de ter assinado, com os amigos do costume, o acordo dos 5,1 por cento da massa salarial global.
Aplicado nos sectores do âmbito sindical da Fiequimetal, retirando os impostos, esse aumento traduz-se em trinta e poucos euros — como acontece no sector da metalurgia, antes referido, onde as empresas batem recordes de exportações e de lucros, mas o salário praticado é pouco mais que o salário mínimo nacional.
A CIP deve entender que a indústria não tem futuro com baixos salários, precisa de dar o salto quantitativo e qualitativo no aumento dos salários. E não vale a pena virem falar em competitividade, pois já se sabe que, para os patrões, isso significa menos salário e menos direitos.
A CIP — observou ainda — admite que os salários são baixos, mas não fala em aumentos dos salários. Fala no aumento do rendimento disponível e faz demagogia com a redução de impostos e descontos, querendo ainda mais benesses fiscais.
Recordou os lucros de mais de mil milhões de euros, da GALP, e de mais de 900 milhões, da EDP. Esta, mesmo assim, não quer valorizar os trabalhadores mais jovens, cujos salários médios estão, como na generalidade dos sectores, a perder terreno para o salário mínimo nacional.
Para a Fiequimetal e os seus sindicatos, é preciso valorizar as carreiras, as profissões, o conhecimento adquirido, a formação profissional dos jovens, com o pagamento de salários justos.
Da CIP espera-se que diga às associações patronais para se sentarem à mesa da negociação. «Nós queremos negociar e esse é um direito que está na Constituição», mas «não estamos cá para assinar tudo e mais um par de botas: horários desregulados, bancos de horas, adaptabilidades, o poder absoluto para o patrão! Estamos cá para assinar aquilo que é bom para os trabalhadores.»
Quem leva a CIP ao Porto?
A CIP, para uma espécie de congresso, no Porto, dias 20 e 21, convidou quem bem entendeu e, entre os convidados, estão os líderes do PS, do PSD, da IL e do Chega. Rogério Silva interrogou: Haverá coincidências nestes convites? Ou será que o poder político anda de braço dado com o patronato? Ou será que existe promiscuidade entre o poder económico e o poder político?
Ou será que estes candidatos a deputados vão lá ao beija-mão e dizer «estamos disponíveis» e, no futuro, quando for para aumentar o salário mínimo nacional, será para daqui a não sei quantos anos?...
«Nós insistimos que o aumento do salário mínimo é para agora, como o aumento dos restantes salários, é agora que se paga a prestação ao banco, é agora que se vai ao supermercado, é agora que queremos uma parte dos lucros que nos pertence, para termos uma vida com dignidade e para termos direito à felicidade», concluiu Rogério Silva, reafirmando que «a luta vai continuar nos locais de trabalho».
Empresas têm condições
A Secretária-Geral da CGTP-IN, Isabel Camarinha, que interveio no final, salientou que as empresas podem suportar os aumentos salariais exigidos. Lembrou que, em média, os custos de pessoal representam apenas 14 por cento dos custos totais das empresas. Mas nas grandes empresas ainda é menos: 12 por cento!
Considerou que o aumento de 15 por cento, com um mínimo de 150 euros, «é possível, é urgente e é mesmo necessário, para que muitos milhões de trabalhadores saiam do empobrecimento, para garantir vida digna».
Isabel Camarinha garantiu que a CGTP-IN e os sindicatos vão, nos locais de trabalho, continuar a «esclarecer, informar, saber os problemas dos trabalhadores, organizar e mobilizar, para continuarem a luta por melhores condições de vida e de trabalho e também para levarem a luta até ao voto, no dia 10 de Março».
«Precisamos de uma política alternativa, que enfrente os interesses do capital, que garanta a valorização do trabalho e dos trabalhadores», mas «na AR já há deputados a mais a defender os interesses dos patrões, o que é preciso é haver mais deputados que defendem os interesses de quem trabalha e produz, de quem garante o funcionamento do País».
Luta estará no Congresso
O 15.º Congresso da CGTP-IN, que tem lugar nos dias 23 e 24, «vai ter presente a luta dos trabalhadores, dos que estejam em luta nesse dia, dos que estiveram em luta na véspera ou há um mês, dos que vão estar em luta no dia seguinte, dez dias depois ou um mês depois».
Uma dessas será a greve no Grupo NORS (Auto Sueco), convocada pela Fiequimetal para dias 22 e 23.
E, depois, «a luta vai ter de continuar», porque «precisamos de organizar e mobilizar os trabalhadores, para defenderem este país que nós queremos que tenha como referência o 25 de Abril, as suas conquistas e direitos, que a Constituição consagra, os seus valores». «Com essa referência poderemos construir o Portugal com futuro que exigimos e a que temos direito», concluiu Isabel Camarinha.
Ver também
— Resolução entregue na CIP
— Pré-aviso de greve no Grupo NORS (Auto Sueco), para 23 e 24 de Fevereiro, em defesa do Caderno Reivindicativo, incluindo aumento de salários e melhoria das condições de trabalho